Foi ao recordar dois episódios do Orto do Esposo, obra moralística portuguesa do início do século xv, que Jorge de Sena se viu tentado a cruzar duas das suas personagens: um físico, médico-bruxo, que sangra o seu corpo para curar os males de outros, e o endemoninhado que sobrevive à vertigem da morte no cadafalso. Contudo, em O Físico Prodigioso entrelaçam-se muito mais que duas narrações medievais. Nele desenrola-se uma história ungida pelo erotismo e pelos desejos da carne, ainda que epítomes da sagração da liberdade e do amor. Uma novela, como gostava de a apelidar o autor, publicada inicialmente na coletânea Novas Andanças com o Demónio (1966), que viria a ser reeditada individualmente, em 1977.