Título: O Lugar das Árvores Tristes
Autora: Lénia Rufino
Edição: Março 2021
Páginas: 224
Editora: Manuscrito Editora
ISBN: 9789898975805
Sinopse
Isabel não tinha medo dos mortos. Gostava de passear por entre as campas do cemitério, a recuperar as histórias da morte daquelas pessoas. Quando a falta de alguma informação lhe acicatava a curiosidade, perguntava à mãe…
Quando esta se recusa a dar-lhe uma resposta sobre uma mulher chamada Eulália, Isabel inicia uma busca por esclarecimentos. Só que ninguém quer falar sobre o assunto e, inesperadamente, Isabel vê-se confrontada com uma teia de mentiras, maldade, enganos e crimes que a levam a compreender o passado misterioso da mãe e a forma quase anestesiada da sua existência.
Um romance de estreia profundamente sagaz e envolvente que faz um retrato do interior português preso na tradição religiosa da década de 1970.
Opinião
Estou encantada com esta história, tão bonita, embora tão severa para a personagem principal, de seu nome Lurdes, que várias vezes tem de enfrentar o jugo dos habitantes da aldeia onde nasceu, mas especialmente do pároco local.
«Não é no espaço que as coisas circulam à velocidade da luz, é nas aldeias.» (p. 61)
Lurdes, na sua adolescência, é uma personagem feminina forte, com as suas incertezas, indecisões e fragilidades, mas pareceu-me demasiado espevitada para uma rapariga de aldeia do Alentejo profundo de antes do 25 de Abril de 1974. Mais facilmente a situava numa época um pouco posterior.
Tive oportunidade de ouvir a autora, Lénia Rufino, explicar o que é o lugar das árvores tristes. Não sei se é uma daquelas coisas que toda a gente sabe e eu não (acontece!), ou se é uma analogia que partiu da criatividade da autora. O lugar das árvores tristes é, tão-somente, um cemitério. Achei esta imagem incrível! E se já tinha muita vontade de ler o livro, depois disto, nem é preciso dizer que essa vontade aumentou exponencialmente. Desde criança que adoro visitar cemitérios, sentir aquela paz, aquele silêncio.
É com as visitas de Isabel ao cemitério da aldeia que partimos para esta leitura.
«(…) bastava ouvir o portão ranger para saber que os mortos tinham companhia — alguém teria ido matar saudades, lavar sepulturas, mudar a água às flores ou endireitar as jarras esborceladas que acolhiam arranjos de plástico, numa espécie de morte a imitar a vida.» (p.11)
As primeiras páginas permitem antever, imediatamente, uma forte crítica à Igreja Católica, na pessoa do padre daquela aldeia, um homenzinho com a mania que manda em tudo e em todos. Todas as questões relativas à vida das pessoas não só têm de passar por ele, como é ele próprio que tem o poder de decisão. Ai de quem não acatar!
«(…) o poder que achava que tinha sobre as pessoas não era mais do que uma ilusão alimentada às custas de não ter mais nada a que se agarrar.» (p. 171)
Ao longo da narrativa, vamos acompanhando uma família destroçada, dividida pela culpa das decisões tomadas, enquanto o peso das aparências ganha espaço relativamente à vontade do coração. Aos membros desta família resta enfrentar as consequências que tais decisões acarretam e lidar com elas da melhor forma possível.
«O tempo opera milagres ou ilusões perfeitas.» (p. 88)
A escrita é exímia, a história é soberba!
«(…) como acontece na ficção, este livro é um jogo de espelhos onde muitos de nós poderemos ver refletida parte da nossa história.» (p. 221)
Boas Leituras ❤️