Título: A Avó e a Neve Russa
Autor: João Reis
Edição: Fevereiro 2017
Páginas: 224
Editora: Elsinore
ISBN: 9789898843654
Sinopse
«As folhas caídas das árvores giram à minha volta com o vento, mas aperto mais o casaco, porque nem o vento nem as folhas-bailarinas me alegram com a melancolia, só me deixam ensopado em tristeza, como a chuva nos faz por vezes. Os homens não choram. Avanço. Os catos que vejo alinhados na rua voltam a ser árvores e a Babushka, deitada na cama de hospital, é uma criança que aumentou e encolheu.»
Babushka está doente. Esta russa idosa, emigrante no Canadá, sobreviveu ao acidente nuclear de Chernobyl. Esconde no peito a doença que a obriga a respirar a contratempo e lhe impõe uma tosse longa e larga e comprida e sem fim — um mal que a faz viver mergulhada nas memórias do seu passado luminoso, a neve pura da Rússia, recordação sob recordação.
Na fronteira com a realidade caminha o seu neto mais novo, de dez anos, um menino que não desiste de puxar o fio à meada e de tentar devolver a avó ao presente. Para ajudar Babushka, precisa de encontrar uma solução para os seus pulmões destruídos, sacos rasgados e quase vazios — mesmo que isso o obrigue a crescer de repente e partir em busca de uma planta milagrosa, o segredo que poderá salvar a família e completar a matriosca que só ele vê.
Narrado na primeira pessoa e escrito a partir da perspetiva de uma criança, A Avó e a Neve Russa é um livro feito da inocência e da coragem com que se veste o deslumbramento das infâncias. Romance simples e emotivo sobre a força da memória e da abnegação, relata a peregrinação de um neto através da esperança, do Canadá ao México, para encontrar a possibilidade de um final feliz.
Opinião
Este livro é um caminho que vamos percorrendo de mão dada com um menino de 10 anos, que nasceu no Canadá, numa demanda para encontrar a cura para a sua avó exposta, outrora, aos “ventos atómicos” de Chernobyl. Uma história ternurenta e de uma inocência ímpar, de que só as crianças são capazes, que se desenvolve entre o tangível e os conceitos estabelecidos na cabeça deste rapaz que se acha já um homenzinho.
«Para mim, neve é sempre neve. Como as pessoas: canadianos, americanos, russos. São todos iguais, embora pareçam diferentes quando olhamos por pouco tempo (…).» (pág. 34)
Sem pais, com a avó doente e um irmão pouco presente, o menino conta muito com ajuda dos vizinhos, todos eles emigrantes naquele bairro de Montreal, uma história também sobre a amizade, sobre a fé. Somos levados a ver o mundo pelos olhos deste menino através de uma escrita simples, com muito humor, apesar da dura realidade. Em certas alturas fiquei com o coração apertado de dor, de tristeza, de angústia.
«(…) um homem não chora: quando os laços das emoções se apertam, estas saem de nós em água salgada, e pelos olhos, o que quase nunca é agradável.» (pág. 15)
Estava com um pouco de receio que o final fosse abrupto ou que ficasse em aberto, mas fiquei de queixo caído quando lá cheguei, de surpresa. Um livro bem conseguido do início ao fim. Muito bonito!
«Temos de pensar bem no que vamos dizer antes de o dizer, e é assim que quero ser quando for adulto: mais seguidor da racionalidade do que das emoções, para não sofrer.» (pág. 64)
Foi a minha estreia com João Reis, fiquei com imensa vontade de ler mais do autor.
Boas Leituras ❤️