Título: A Lição do Sonâmbulo
Autor: Frederico Pedreira
Edição: Abril 2020
Páginas: 164
Editora: Companhia das Ilhas
ISBN: 9789899007079
Sinopse
No prefácio a um livro curioso da sua autoria, José Rodrigues Miguéis escreve: “até que ponto pode um escritor falar das suas experiências pessoais, sem incorrer na pecha de subjectivismo e sem ser indiscreto a respeito de si próprio? Será possível, nesta época e num meio como o nosso, avesso por tradição e preconceito à literatura de confissões, que tem enriquecido e ajudado a esclarecer tantas outras culturas, usar da franqueza de um Rosseau, de um Stendhal, de uma Bashkírtseva, para não dizer já de um De Quincey ou Baudelaire?”
A época a que Rodrigues Miguéis se refere podia também ser a nossa. O problema da confissão (se é realmente isso o que está em causa) mantém-se e será sempre um dos aperitivos preferidos da teoria da literatura. Ainda assim, talvez se insurja outro problema maior nos nossos tempos: a ficção deslumbrada consigo mesma, a ficção como conceito saturado, enquanto via profissionalizante, livre-trânsito do bom gosto, imitação da vida explicada como quem junta dois mais dois, sendo que o caso não se dá apenas em literatura.
Mas voltando a esta: talvez desta vez o autor se tenha cansado de escrever José disse ou Joaquina disse quando foi ele que disse e mais ninguém. Talvez nestes tempos de passamanes não valha muito a pena embelezar um caminho esburacado, quando apesar de tudo são esses buracos que ainda lhe dão um nome.
Opinião
Levei muito tempo a entrar nesta leitura, mas depois de lá entrar até acabei por gostar. Não me arrebatou, não é de leitura fácil, as frases são enormes, cheias de vírgulas e parêntesis, mas consegui-me identificar com muitas das memórias do autor, quer de locais, quer de objetos icónicos.
Parece ser um livro autobiográfico, retratando a infância e juventude do autor, entre família e férias de verão, cheio de peripécias e memórias dos anos 80 e 90 do século passado. Temos a toalha da Coca-Cola, as pastilhas Gorila, a revista Bravo, o anúncio da Cerelac, até mesmo o computador Spectrum.
Acho a escrita pretensiosa, não acessível a todos os leitores, mas, no fim de contas, está tão bem escrito, mesmo apesar da sua estrutura atabalhoada, que, com um pouco de paciência e insistência e com total foco na leitura, é possível habituarmo-nos ao ritmo da narrativa.
Com um final que remete para a decadência humana, corpo e mente, que um dia, presumivelmente, nos tocará a todos, nostalgia do que já fomos algures no nosso tempo e que ficou lá para trás, agora apenas fruto da memória.
Boas Leituras ❤️