Título: Aaron Klein
Autor: Paulo José Miranda
Ilustrações: Rui Rasquinho
Edição: Fevereiro 2020
Páginas: 292
Editora: Abysmo
ISBN: 9789899014053
Sinopse
Aaron Klein, de Paulo José Miranda, sobressai no panorama da literatura Portuguesa contemporânea como uma intensa busca da interioridade mais íntima do ser humano, a partir da figura de Aaron Klein, judeu regressado a Lisboa, depois de ter deixado a cidade, ainda criança, partindo com os pais rumo a Israel, a terra prometida.
A partir do ponto de vista das várias personagens que habitam o livro, num discurso vívido, denso e polifónico, a vida, o pensamento, a escrita de Aaron Klein são reconstruídos como um mosaico, em que ficção e realidade se cruzam, para esboçar um breve tratado da infelicidade humana.
Personagens reais como Helder Macedo, George Steiner, Ricardo Ben-Olien, Fernando Gil juntam-se a Vera, Ruth Munzer ou Aaron Klein, para dissolver as barreiras entre entre ficção e real, literatura e ensaio, mostrando que, nos livros, como na vida, todos somos estrangeiros sobre a terra.
Opinião
Desde cedo percebi que não me iria identificar com esta leitura. Ainda assim insisti, mas, um pouco antes de chegar a meio do livro, acabei por desistir.
Não gostei, logo à partida, da proximidade forçada entre Vera e Aaron, duas pessoas que se cruzam pela força das circunstâncias de alugar uma casa e de uma amizade que se constrói em tão pouco tempo dando lugar a um amor entre os dois, um amor entre um pai e uma filha.
Esta é a história de vida de Aaron, narrada a várias vozes, com as suas reminiscências da infância, entre Lisboa e Telavive, durante a Segunda Guerra Mundial, mas também durante a sua vida adulta. Uma busca incessante pelo passado e pelas origens, tanto de Vera como de Aaron.
«(…) Aaron veio até Lisboa para reaver a sua própria vida. Não veio para reaver a felicidade perdida, para uma impossível pacificação com a memória da mãe. Veio para tentar acabar a vida reconciliado consigo mesmo, reconciliado com a razão da sua existência: pedir ao mundo que não faça filhos (…) sem responsabilidade. Antes abortar do que fazer filhos para o nada.» (pág. 41)
O conceito filosófico de responsabilidade e de “o mundo partido”, pela guerra, pela falta de amor, está sempre muito presente durante a obra.
«A responsabilidade humana começa por um combate feroz à ignorância.» (pág. 106)
Se a coisa já não ia bem encaminhada para a minha experiência de leitura, resvala completamente quando o autor se foca na cabala e em estudos literários de Fernando Pessoa numa tentativa de explicar, e até comparar, o amor da sua mãe com o amor da sua mulher, numa espécie de colagem, de sobreposição afetiva.
As suas considerações filosóficas e incursões na obra de Fernando Pessoa têm tanto de interessante como de aborrecido, na medida em que não me faz qualquer sentido procurar explicações para a falta de amor materno em estudos deste calibre. Pareceu-me demasiado aleatório.
Daquilo que espreitei mais à frente, o Holocausto é também um assunto muito debatido, mas não sei em que medida, uma vez que não cheguei lá.
Não costumo desistir das leituras a que me proponho, mas quando não me identifico com elas faço uma de duas coisas: ou acalento um esforço tremendo para chegar até ao fim, demorando imenso tempo até completar a leitura; ou como agora, desisto porque percebo antecipadamente que a estrutura da narrativa não se vai alterar, por mais que nela avance.
Espero que consigam apreciar esta narrativa muito mais do que eu. Afinal, não é de desprezar que Paulo José Miranda foi o primeiro autor a vencer, em 1999, o Prémio José Saramago com Natureza Morta.
«Reclamar (…) mais do que um desvio, um vício comportamental, é um exercício fundamental de cidadania, de responsabilidade.» (pág. 17)
«Quem não reclama contra o que está mal contribui para a decadência do país.» (pág. 18)
Boas Leituras ❤️