
Título: Azul – Corvo
Autora: Adriana Lisboa
Edição: Maio 2012
Páginas: 240
Editora: Quetzal Editores
ISBN: 9789897220135
Sinopse
Após a morte da mãe, Evangelina, Vanja, decide voltar aos Estados Unidos, onde nasceu, para tentar localizar o seu pai. Em companhia do ex-marido da mãe, Fernando, e de um simpático garoto salvadorenho, Carlos, ela mergulha em recordações alheias para organizar a sua própria história. Neste trajeto, Vanja também toma consciência do passado recente do Brasil, por meio das lembranças de Fernando, o exguerrilheiro no Araguaia.

Opinião
Que bela surpresa!
Adorei a escrita de Adriana Lisboa neste «Azul – Corvo», com uma linguagem despretensiosa, mas com muitas reflexões sobre tudo e nada, sobre a vida em geral. Apesar de se ter mantido a grafia de português do Brasil, a narrativa é muito fluida numa escrita com sentido e sentimento. Mesmo nas passagens em que não acontece nada de especial, conseguimos ver e sentir através do olhar das personagens.
«Ainda estava no início da adolescência, mas já desconfiava que ela era mais ou menos uma guerra declarada entre mim e a idade adulta.» (pág. 43)
É um livro para ler com atenção e dedicação, apenas porque se presta a muitas divagações (bem bonitas!), entre analepses e prolepses, e não nos queremos perder entre elas.
«Quando o inimigo avança, recuamos, e quando precisamos recuar às vezes tropeçamos em nós mesmos.» (pág. 122)
Vanja, a personagem principal, vai montando o puzzle do seu passado a partir de fragmentos e memórias de outras personagens. E assim se constrói a narrativa, muitas vezes numa conversação de si para consigo própria, e numa viagem por entre a História contemporânea do Brasil, entre ficção, curiosidades e factos históricos.
«Dizem que a cada sete anos as células no seu corpo já foram todas trocadas, de modo que você continua sendo a mesma pessoa mas, a nível celular, passou a ser outra, (…).» (pág. 225)
Uma parábola sobre a família. Por vezes a amizade é tão forte que a nossa família é aquela que escolhemos e nada tem a ver com a consanguinidade. Uma história também sobre emigração e multiculturalidade, o sentido de pertença ou a falta dele.
«Curioso como as pessoas centrais da minha vida agora eram todas periféricas.» (pág. 72)
Recomendo muito, embora tenha noção de que não é um estilo literário consensual que agradará a toda a gente.
«Aqueles livros já lidos: não ia reler, ia? Faria sentido ficar rebocando por aí uma coleção de paralelepípedos de papel com capas coloridas como se eles fossem animais de estimação, (…) precisando de cuidado extra no fim da vida?» (pág. 17)
Boas Leituras ❤️