Título: Conduz o Teu Arado sobre os Ossos dos Mortos
Autora: Olga Tokarczuk
Edição: Novembro 2019
Tradução: Teresa Fernandes Swiatkiewicz
Páginas: 288
Editora: Cavalo de Ferro
ISBN: 9789896686673
Sinopse
Numa remota aldeia polaca, a excêntrica Janina Duszejko, professora reformada, divide os seus dias a traduzir a poesia de William Blake e a observar os sinais da astrologia, fazendo por manter-se afastada das pessoas e próxima dos animais, cuja companhia prefere; mas a pacatez dos seus dias vê-se interrompida quando começam a aparecer mortos vários membros do clube de caça local. Certa de encontrar respostas, Janina decide lançar-se na investigação do caso, chegando a uma estranha teoria que espalhará o terror pela comunidade.
Sob a máscara de policial noir ou fábula macabra, Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos é um romance mordaz e desconcertante que questiona a nossa posição acerca dos direitos dos animais e responsabilidade sobre a natureza, bem como todas as ideias preconcebidas sobre a loucura, a justiça e a tradição.
Opinião
Foi uma leitura bem estranha e até algo bizarra. Não entrei logo na história, talvez por ter começado logo por descrever um episódio impressionante com animais da floresta, o que veio a repetir-se ao longo do livro. Depois, porque se foca demasiado na astrologia, com muitos pormenores dos planetas em determinadas posições que dão origem a certos eventos. Tão descritivo neste aspeto que, por vezes, a minha atenção se dispersou.
«Tudo isto é muito complicado e pode aborrecer quem não percebe nada de Astrologia. (…) quando relacionamos os diferentes factos, verifica-se que a correlação entre os acontecimentos que se passam cá em baixo e a configuração dos Planetas, lá em cima, é excepcionalmente clara.» (p. 127)
A personagem principal, Janina Duszejko, é uma senhora idosa, que habita numa remota localidade polaca onde os invernos são muito rígidos e longos; aguerrida defensora dos animais, muito interessada no horóscopo e na astrologia. Uma senhora cheia de teorias, a roçar a loucura.
«Agora, compreendia a semelhança existente entre as torres de vigia de caça , que aliás faziam lembrar as torres dos guardas dos campos de concentração, e o púlpito da igreja. No púlpito, o Homem coloca-se acima dos outros Seres e atribui a si próprio o direito de lhes conceder a vida ou a morte.» (p. 254)
Apesar de trazer para tema de conversa os direitos dos animais, fá-lo de uma forma tão fantasiosa e extravagante que, em determinadas passagens, me fez esmorecer o interesse na leitura, com muitas deambulações, algumas bem bonitas e profundas, mas que desviam a atenção do evento principal da narrativa.
«O mundo é uma prisão cheia de sofrimento, construída de modo que, para se sobreviver, seja preciso infligir dor a outros.» (p. 117)
Apesar de ter achado uma leitura meio morna e peculiar, senti que o final salva a história. Cheguei ao fim do livro com sentimentos ambivalentes, mas com o coração preenchido e a pensar “ainda bem que o li”. Não tendo sido uma narrativa arrebatadora, tratou-se de uma bonita história sobre a amizade e o companheirismo e o amor pelos animais.
«(…) às vezes, tenho a impressão de que vivemos num mundo inventado por nós mesmos. Estabelecemos o que é bom e o que não e, desenhamos mapas de significados… e, depois, passamos a vida inteira a lutar contra aquilo que concebemos. O problema é que cada um tem a sua versão do mundo, e por isso é tão difícil as pessoas entenderem-se.» (p. 236/7)
Curiosidade: A determinada altura a autora faz referência às minas de sal de Wieliczka, um local que, há anos, adorava visitar.
Boas Leituras ❤️