Título: O Livro
Autor: Zoran Živkovic
Edição: Maio 2016
Tradução: Rita Carvalho e Guerra
Páginas: 184
Editora: Cavalo de Ferro
ISBN: 9789896232221
Sinopse
Zoran Živkovic demonstra uma vez mais toda a sua imensa cultura livreira e, com muito humor, ironia e sátira, compõe um brilhante exercício de imaginação narrativa, onde é o próprio Livro que se assume como protagonista da sua própria história e se dirige em primeira pessoa ao seu leitor humano. Ambos, afinal, partilham muitos aspectos da sua existência e, porventura, o mesmo destino, ou não seria o Livro, mais do que um mero objecto impresso, um verdadeiro monumento à inteligência, ambição e vaidade humanas.
Opinião
Estamos, sem sombra de dúvida, perante uma obra inesquecível, escrita com um sentido de humor brilhante, um sarcasmo inteligente, narrada pela voz de um livro. Uma história sobre livros desde o seu nascimento até, por vezes, à sua morte, passando pelos vários estilos de vida a que cada um é sujeito pelos humanos, claro. E desenganem-se se acham que os livros têm vidas fáceis e pacatas. Não! Tal como outras espécies do nosso planeta, os livros encontram-se em perigo de extinção.
«(…) embora estejamos simbioticamente unidos aos humanos, poderíamos, em última instância viver sem eles. Para que é que precisamos deles, exactamente? Para nos lerem? Trata-se de uma actividade recreativa que os beneficia apenas a eles, não a nós, de todo. Enquanto actividade física só nos causa danos (…).» (p.9)
Um obra obrigatória para os viciados em livros, especialmente para aqueles com um sentido de humor apurado, aqueles que sabem rir-se de si próprios em primeiro lugar. Nenhum tipo de leitor fica de fora deste livro: o que lê na casa de banho; o que dobra os cantos das páginas para marcar; o que deixa o livro aberto; os que tomam notas ou sublinham; os que lambem os dedos para mudar de página. É impossível não dar umas valentes gargalhadas!
«É verdadeiramente repugnante ver alguém a enfiar um dedo na boca para o molhar e depois usá-lo para virar uma página. Um dedo, às vezes dois; por vezes, até lambem três dos dedos com tal propósito. (…) Estão-se nas tintas para os danos permanentes que a sua saliva provocará aos delicados cantos das nossas páginas, ou ao cheiro do mau hálito exalado sobre nós enquanto estão a lamber.» (p. 13)
Uma sátira acutilante ao mundo editorial, passando por cada uma das funções que dele fazem parte. O escritor, o revisor, o assistente editorial, o agente, o diretor…
«Poucos instantes depois de ter entrado no gabinete com esta sugestão, o infeliz assistente editorial sai a voar, de cabeça, projectado por uma torrente de censuras e recriminações, e com grande frequência seguido por um qualquer objecto (…) que calhasse estar ao alcance do director.» (p. 100)
Um livro corrido sem capítulos, sem pausas, sem divisões do início ao fim o que, por vezes, poderá torna-se um pouco maçudo e cansativo. Mas vale muito a pena ser lido!
Boas Leituras ❤️