Título: O País dos Outros
Autora: Leïla Slimani
Edição Digital: Maio 2021
Tradução: Tânia Ganho
Páginas: 344
Editora: Alfaguara
ISBN: 9789897840043
Sinopse
Da aclamada autora franco marroquina Leïla Slimani, uma atmosférica e inquietante saga familiar que põe em relevo uma mulher enredada entre duas culturas, dividida entre a dedicação à família e o amor à liberdade com que cresceu.
Em 1944, Mathilde, uma jovem alsaciana, apaixona-se por Amine, um oficial marroquino que combate no exército francês durante a Segunda Guerra Mundial. Terminada a guerra, o casal muda-se para Marrocos e instala-se perto de Meknés. Amine dedica-se a recuperar a quinta herdada do pai, tentando arrancar frutos de uma terra pedregosa e estéril.
Enquanto isso, Mathilde começa a sentir o jugo dos costumes conservadores do novo país, tão sufocante quanto o seu clima. Nem a maternidade apaga a solidão que sente no campo, longe de tudo, num lugar que não é o seu e a verá sempre como estrangeira.
Opinião
Estava muito ansiosa para ler este livro. As expectativas eram, portanto, muito elevadas.
Imaginei que o livro fosse mais centrado em Mathilde, uma rapariga francesa, que se casa com um marroquino, Amine, e vai viver com ele para Marrocos. Imaginei um cenário em que a mulher estivesse culturalmente amarrada ao marido e aos costumes do país, não se conseguindo libertar do seu jugo.
«Como é que achara que poderia viver com uma europeia, como uma mulher tão emancipada como Mathilde?» (Parte III)
O que encontrei foi um livro que, embora muitíssimo bem escrito, nos relata muitas histórias soltas, de muitas das personagens, entre dramas familiares e a guerra colonial francesa, cujo único fio condutor é a época em que se desenrola, nas décadas de 1940 e 1950.
«Queriam que Mathilde ouvisse os relatos de raptos de franceses, tomados como reféns e torturados pelos homens das montanhas, porque a consideravam cúmplice desses crimes atrozes.» (Parte III)
A maioria das personagens que povoam esta narrativa são detestáveis, fúteis, mesquinhas, retorcidas, más. Só numa ou noutra ocasião se consegue estabelecer empatia e chegamos ao fim do livro sem conhecer o destino de algumas delas.
«Mathilde achava-os a todos de uma inferioridade repulsiva, de uma banalidade que a magoava mais do que as saudades do seu país ou do que a solidão.» (Parte I)
«[Mathilde] Repetia o dia inteiro recomendações sobre higiene [à sua empregada]. “És porca!”, gritava. “A tua ferida está a infectar. Aprende a lavar-te.» (Parte IV)
Mathilde, descrita como a “sempre estrangeira”, olhada de lado, imiscuída da sociedade, alvo de comentários xenófobos, e os membros da sua família, por associação, eram vistos como uns selvagens que viviam fora da cidade, longe de tudo e de todos.
«(…) compreendeu que era uma estrangeira, uma mulher, uma esposa, um ser à mercê dos outros.» (Parte I)
«A sua altura, a sua brancura, o seu estatuto de estrangeira mantinham-na à margem das coisas, do silêncio que faz com que uma pessoa saiba que está em casa.» (Parte I)
Mas na realidade, durante a leitura, não senti que assim fosse, excetuando a filha do casal, Aïcha, vítima de bullying no colégio católico francês que frequenta, mais pela sua devoção a Deus, inteligência e condição social desfavorecida, do que por ser estrangeira, uma vez que todas as suas colegas também o eram.
«(…) não lhe apetecia dar a mão a uma menina que, sorrateiramente, enterraria as unhas na sua carne e desataria a rir-se.» (Parte IV)
Apesar de ter gostado da leitura, não consigo evitar sentir uma certa desilusão. Estava à espera de mais, faltou qualquer coisa.
«(…) não havia nada que superasse a sensação de ter a cabeça debaixo de água, (…) uma ausência de agitação humana.» (Parte IX)
Boas Leituras ❤️