Título: Onde Cantam os Grilos
Autora: Maria Isaac
Edição: Outubro 2017
Páginas: 296
Editora: Cultura Editora
ISBN: 9789898886026
Sinopse
Ainda bebé, Formiga foi deixado num cesto nos degraus da casa da Herdade do Lago.
O mistério da sua chegada é apenas mais um na longa história da herdade e das várias gerações dos Vaz, que a assombra de lendas e maldições: uma fonte inesgotável de mistérios fascinantes para a imaginação do rapazinho cabeça de vento.
Deslumbrado pela vida da família que venera de forma atrapalhada, Formiga corre e trepa a árvores, encolhe-se, faz-se invisível, inventa um pouco de tudo para conseguir acompanhar conversas, descobrir mais um segredo. Mas o último segredo que ele descobre revela-se demasiado grande para a curiosidade bem-intencionada de uma criança, e um erro seu acaba por destruir o único mundo que conhece e pôr fim à sua infância.
Mais de vinte anos depois, Formiga regressa à Herdade do Lago e escreve para um leitor invisível, relembrando tudo o que foi e que não deveria ter sido.
Uma história doce contada pela voz de um adulto que fala pela criança que foi um dia.
Opinião
Que boa leitura!
Uma história feita de histórias, de recordações, como retalhos, remendos cosidos uns aos outros que vão formando uma espécie de puzzle e que, tal como o jogo, vão revelando um pouco de cada vez até conseguirmos visualizar o panorama geral.
«Da mesma forma que ignorava o futuro, também não pensava no passado — é essa a maior bênção de ser criança, essa naturalidade de lidar com o presente. De ser, estar, fazer e pensar, e não perceber os tempos verbais.» (Cap. 6)
Esta é a história de uma família e dos seus estimados empregados, contada por um adulto que um dia foi menino, o Formiga, abandonado nestas terras onde foi acolhido por todos, onde nunca sentiu falta da sua família biológica, onde foi feliz.
«As pessoas daquela família eram a minha forma de compreender o mundo. Cresci a admirá-las, usando as crenças e opiniões delas para formar as minhas e desejando para mim aquilo que mais gostava em cada uma delas.» (Cap. 9)
A narrativa vai-se compondo, ganhando forma e sentido, sempre na perspetiva de Formiga, através de conversas escutadas atrás das portas e janelas, às escondidas, revelando muito mais do que meras coscuvilhices, denunciando intenções e até segredos.
«Na infância, ainda não distinguimos os tons dos sentimentos, nem as nuances entre o certo e o errado — vemos a preto e branco — e quanto mais perto estamos, pior vemos.» (Cap. 14)
A autora faz uso de uma escrita cuidada, mas simples, muito bonita e clara, ainda que a caminhar no sentido da magia. É até difícil explicar o que parece tão fácil. É de uma fluidez e de uma estética arrebatadoras.
«Se nos restringirmos apenas ao real (…), às coisas comuns e banais do dia a dia, átomos e moléculas, esvaziamos a vida de magia.» (Cap. 12)
Mas não é só a beleza e o encanto que caracterizam o lugar onde se desenvolve a narrativa, a Herdade do Lago. Também o drama, a tragédia, o amor, a comédia, a inocência e o impensável, o incognoscível, são parte de algo maior, do puzzle na sua fase final.
«Não temos liberdade para invejar qualquer pessoa, é necessária uma compreensão daquilo que invejamos e uma crença na possibilidade de o obtermos.» (Cap. 12)
É daquelas histórias que não nos abandona quando fechamos o livro, que fica connosco durante algum tempo mais…
«Todos os dias devem ser olhados com a saudade de um adeus, porque a vida vai-se despedindo de nós com cada um que nos oferece.» (Cap. 25)
Boas Leituras ❤️