Título: Persépolis
Autora: Marjane Satrapi
Edição: Abril 2012
Tradução: Duarte Sousa Tavares
Páginas: 352
Editora: Bertrand Editora
ISBN: 9789722531177
Sinopse
Estamos em 1979 e, no Irão, sopram os ventos de mudança. O Xá foi deposto, mas a Revolução foi desviada do seu objetivo secular pelo Ayatollah e os seus mercenários fundamentalistas. Marjane Satrapi é uma criança de dez anos irreverente e rebelde, filha de um casal de classe alta e convicções marxistas. Vive em Teerão e, apesar de conhecer bem o materialismo dialético, ter um fetiche por Che Guevara e acreditar que consegue falar diretamente com Deus, é uma criança como qualquer outra, mergulhada em circunstâncias extraordinárias.
Nesta autobiografia gráfica, narrada com ilustrações monocromáticas simples mas muito eloquentes, Satrapi conta a história de uma adolescência durante a qual familiares e amigos “desaparecem”, mulheres e raparigas são obrigadas a usar véu, os bombardeamentos iraquianos fazem parte do quotidiano e a música rock é ilegal. Contudo, a sua família resiste, tentando viver uma vida com um sentido de normalidade.
Com esta memória inteligente, divertida e comovente de uma rapariga que cresce no Irão durante a Revolução Islâmica, Marjane Satrapi consegue transmitir uma mensagem universal de liberdade e tolerância.
Opinião
Que livro bom! E atenção que não sou fã de novelas gráficas, mas está muito bem conseguido. Muito bem escrito e ilustrado.
É um livro sobre a História contemporânea do Irão e a sua relação com a vida da autora. No fundo, esta é uma obra autobiográfica. Acompanhamos a vida de Marjane, desde o início da adolescência até à entrada na fase adulta, e da sua dinâmica familiar. Não quero explorar mais o conteúdo da narrativa para lá da sinopse para não estragar as sensações que este livro nos transmite à medida que imergimos nele.
Mergulhei com tal entusiasmo na leitura que me foi difícil parar. Senti dor, medo, surpresa, exaspero, revolta, mas também experimentei empatia, compreensão, ternura, carinho, tristeza. E dei umas valentes gargalhadas. No meio de tanta tragédia, a autora consegue contar a sua própria história fazendo, algumas vezes, recurso ao humor, ao sarcasmo e à ironia.
Não é uma leitura leve, é antes uma crítica bem mordaz à sociedade, à política, à religião, à privação dos direitos fundamentais do ser humano. É um livro sobre a importância de sermos livres, facto que tantas vezes tomamos por adquirido e ao qual não damos o devido valor.
A escrita é acessível, mas o seu teor é bem forte. Confesso que, nas primeiras páginas, senti de imediato o peso da minha ignorância em relação à História iraniana, em especial em relação ao uso do véu. Uma realidade tão distópica e tão distante que se torna difícil conceber que existe mesmo e que é, ou foi, a realidade de muitas pessoas.
Por fim, deixo-vos as citações que talvez mais me tenham marcado durante a leitura:
«(…) só conseguimos sentir pena de nós mesmos quando as nossas desgraças ainda são suportáveis… Quando se ultrapassa esse limite, a única maneira de suportar o insuportável é rirmo-nos dele.»
«O regime tinha percebido que uma pessoa que sai de casa a pensar: “Será que as calças são curtas de mais? Nota-se a maquilhagem? Terei posto bem o véu? Irão chicotear-me?” deixa de pensar: “Onde está a minha liberdade de pensamento? Onde está a minha liberdade de expressão? A minha vida é suportável? O que se passa nas prisões políticas?” É normal! Quando temos medo, perdemos todo o sentido de análise e de reflexão. Somos paralisados pelo medo. Além disso, o medo sempre foi a força motriz da repressão de todas as ditaduras. Naturalmente, mostrar o cabelo e pintar-se tornaram-se atos de rebelião.»
Boas Leituras ❤️