Título: Rapariga, Mulher, Outra
Autora: Bernardine Evaristo
Edição: Setembro 2020
Tradução: Miguel Romeira
Páginas: 480
Editora: Elsinore
ISBN: 9789896232894
Sinopse
As doze personagens centrais deste romance a várias vozes levam vidas muito diferentes: desde Amma, uma dramaturga cujo trabalho artístico frequentemente explora a sua identidade lésbica negra, à sua amiga de infância, Shirley, professora, exausta de décadas de trabalho nas escolas subfinanciadas de Londres; a Carole, uma das ex-alunas de Shirley, agora uma bem-sucedida gestora de fundos de investimento, ou a mãe desta, Bummi, uma empregada doméstica que se preocupa com o renegar das raízes africanas por parte da filha.
Quase todas elas mulheres, negras e, de uma maneira ou de outra, resultado do legado do império colonial britânico. As suas histórias, a das suas famílias, amigos e amantes, compõem um retrato multifacetado e realista dos nossos dias, de uma sociedade multicultural que se confronta com a herança do seu passado e luta contra as contradições do presente.
Um romance atual, brilhantemente escrito, que repensa as questões de identidade, género e classe com o pano de fundo do colonialismo, da emigração e da diáspora.
Força narrativa e escrita cativante num empolgante mosaico de histórias de vida que farão o leitor repensar a sua maneira de ver o mundo.
Opinião
«Rapariga, Mulher, Outra» apresenta-nos uma panóplia de temas, infelizmente ainda geradores de muitos preconceitos e conflitos nas sociedades modernas, como o racismo, o safismo, o feminismo, a microagressão, a identidade de género, a violação, o consentimento, a misoginia e a misandria… Cada uma das doze personagens traz um ou mais destes temas para cima da mesa.
«não és uma desavergonhada como essas inglesas» (cap. 2)
«(…) vem de uma família que muito se orgulha de a sua pele vir clareando mais um pouco a cada geração» (cap. 4)
«não quer sucumbir à paranoia de achar que qualquer que seja a reação negativa de que se veja alvo tem por motivo a cor da sua pele, a mãe ensinou-lhe que nunca podemos saber ao certo o que alguém tem contra nós a menos que no-lo digam com todas as letras» (cap. 3)
Pareceu-me, em determinadas alturas, que estes assuntos foram tratados com leviandade, de forma fútil e pouco séria pelo recurso a mexericos e posições extremistas que em nada os dignificam. A maior parte das personagens é negra e muitas são retratadas como racistas e preconceituosas em relação aos brancos ou a pessoas com tons de pele diferentes dos seus (colorismo).
«eles gostavam dela porque tinha a pele mais clara e o cabelo menos crespo» (cap. 1)
«sempre se tinha achado feia e que isso só parou quando os africanos lhe disseram que não, que era bonita» (cap. 1)
É curiosa a forma como as personagens se vão relacionando umas com as outras ao longo da narrativa, entre muitas lutas de egos e perspetivas diferentes sobre a mesma temática. Mas a determinada altura dei por mim a tentar perceber quem é quem, há muito grau de parentesco em jogo.
«só ficamos a conhecer verdadeiramente uma pessoa depois de lhe irmos às gavetas e de lhe ver o histórico de navegação na Internet» (cap. 1)
Como não houve uma história, com princípio, meio e fim, estava à espera que as personagens se encaixassem melhor umas nas noutras no final. Fiquei com uma sensação agridoce. Se por um lado a escrita é fácil, clara e objetiva, por outro não me senti arrebatada, apesar de ter gostado. Senti que os temas mereciam mais seriedade.
«ouço falar em feminismo e penso logo em carneirada» (cap. 1)
«(…) a população estudantil daquele liceu deixou de ser predominantemente composta por crianças e jovens ingleses das classes baixas para se tornar num jardim zoológico multicultural (…)» (cap. 3)
Estou muito curiosa para ler o mais recente título da autora, Raízes Brancas, que parece fazer mais o meu género.
Boas Leituras ❤️