Assírio & Alvim inicia a publicação da poesia de Jorge de Sena. Perseguição e Coroa da Terra são os primeiros volumes da nova coleção Obras de Jorge de Sena. Perseguição (1942) é o título de estreia de Jorge de Sena, o primeiro livro da sua longa produção poética. Neste primeiro fôlego, o autor parece libertar a poesia portuguesa de uma aparente asfixia trazida por Pessoa, reinterpretando o lugar do eu poético face ao mundo observado e subvertendo um certo sentimentalismo lírico que havia feito escola nas letras portuguesas. Prefácio de Fernando J.B. Martinho.
ETERNIDADE
Vens a mim
pequeno como um deus,
frágil como a terra,
morto como o amor,
falso como a luz,
e eu recebo-te
para a invenção da minha grandeza,
para rodeio da minha esperança
e pálpebras de astros nus.
Nasceste agora mesmo. Vem comigo.
Coroa da Terra (1946), no seu segundo livro de poesia e a partir das suas deambulações pelo Porto, cidade a que dedica este título, Sena mostra-nos a visão de um mundo cru e impiedoso, à espera de ser sublimado pela melodia dos seus poemas. Prefácio de Francisco Cota Fagundes.
BAPTISMO
Os mais difíceis poemas onde falo de amor
são aqueles em que o amor contempla.
O amor esquece ao contemplar,
esquece que não existe e encantado olha
um raio anónimo sob o vento mais leve.
Contempla, amor, contempla.
E vai criando o nome que darás ao raio.
Sobre o Autor:
Jorge de Sena nasceu em Lisboa a 2 de novembro de 1919 e morreu em Santa Bárbara, na Califórnia, a 4 de junho de 1978. Licenciado em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia do Porto, parte para o exílio no Brasil em 1959 e aí doutora-se em Letras e torna-se regente das cadeiras de Teoria da Literatura e de Literatura Portuguesa. Muda-se para os EUA em 1965, lecionando na Universidade de Wisconsin e, anos depois, na Universidade da Califórnia. Poeta, ficcionista, dramaturgo, ensaísta e tradutor, é considerado um dos mais relevantes escritores de língua portuguesa do século xx, autor de títulos como Metamorfoses (1963), Os Grão-Capitães (1976), O Físico Prodigioso (1977) e Sinais de Fogo (1979), este último considerado a sua obra-prima.